Não é uma praga, tem função ecológica e ainda ajuda a entendermos a Biologia Evolutiva.
Preparado por Livia Cavalcanti - Jornalista convidada
Revisado por Elvira D'Bastiani - Ecóloga do Projeto Mulheres na Ecologia
“Tuco-tuco”, “rato-de-pente”, “curu-curu”, “marmota-dos-pampas”. Todos nomes pelos quais é conhecido este incrível roedor, originário da América do Sul. Uma espécie de “marmota brasileira”, o tuco-tuco habita túneis e galerias subterrâneas (que podem atingir comprimentos de até 15 metros), escavadas por ele mesmo, tal qual os esquilos da América do Norte.
Chamados de espécies engenheiras por sua função ecológica, esses herbívoros se alimentam de raízes, sementes e grama e, durante esse processo mediado pela escavação, acabam trazendo nutrientes que ficam no fundo das galerias à superfície, os quais são utilizados pela vegetação. No entanto, a mesma atividade que aumenta a disponibilidade de alguns nutrientes perto das tocas é a mesma que o faz carregar o estigma de praga por agricultores e pecuaristas por fazerem isso em meio a pastagens, lavouras e demais áreas agriculturáveis.
Animais ainda pouco conhecidos, acredita-se que os roedores constituam cerca de 43% de todos os mamíferos do planeta, e, mesmo sendo o maior grupo de mamíferos da natureza, algumas espécies estão ameaçadas pela ação humana. Excelentes dispersores de sementes, gostam de viver sozinhos e se comunicam através de um som característico. O termo tupi "tuku tuku" foi que originou o nome popular “tuco-tuco”.
Onde está o Tuco-tuco?
Encontrado em várias partes da América do Sul, atualmente estão registradas cerca de 65 espécies no mundo, pertencentes ao gênero Ctenomys, sendo oito destas catalogadas no Brasil.Apesar de duas destas espécies habitarem o estado de Mato Grosso e outra em Rondônia, o Estado do Rio Grande do Sul é o que apresenta o maior número de espécies (cinco espécies).
É lá, no Rio Grande do Sul, que a pesquisadora Thamara Santos de Almeida, por meio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), conduziu uma pesquisa interessada em aspectos de distribuição, ecologia de populações e conservação desses animais. Em sua mais recente investigação ela buscou saber quais aspectos da estrutura da paisagem influenciam a persistência do Tuco-tuco-do-lami (Ctenomys lami), uma espécie endêmica do bioma Pampa e ameaçada de extinção. Além disso, tentou-se compreender também se houve redução na sua extensão de ocorrência e distribuição ao longo do tempo.
Conservando a natureza
Os estudiosos apontaram que a ação antrópica, aquela causada pelos humanos, especialmente em virtude de são plantações agrícolas, é uma das razões centrais que afetam a dinâmica de vida dessa espécie. Reduzidos seu habitat e seus corredores de deslocamento entre áreas de vegetação nativa, fica cada vez mais difícil a migração e consequentemente a qualidade genética dessas populações.
Esta não foi a primeira pesquisa de Thamara com esses bichinhos e ela não está sozinha nesta empreitada. Alterações genéticas nas espécies, com foco na hibridização e compatibilidade reprodutiva, além de características micro evolutivas também foram estudadas por ela e uma equipe de pesquisadores ligada ao seu programa de pós-graduação na universidade.
Em artigo sobre o tema evolutivo publicado em 2018, na revista Biological Journal of the Linnean Society sob o título “Evolution in action: soil hardness influences morphology in a subterranean rodent (Rodentia: Ctenomyidae)”, os autores explicam que o grande interesse dos biólogos evolutivos é entender quais características ambientais estão associadas a características morfológicas e comportamentais das espécies.
Para eles, estudos intraespecíficos que abordam essa questão fornecem a melhor evidência para a evolução orientada pela ecologia em escalas curtas de tempo. E foi exatamente isso que o estudo com morfologia do crânio e do membro anterior e a força de mordida estimada entre populações de uma única espécie de Tuco-tucos forneceu durante avaliação de dois habitats adjacentes que diferiam na dureza do solo.
A pesquisadora explica a importância de tantos e diversificados estudos com esses roedores. “Saber diferenças entre populações da mesma espécie nos dá detalhes de como a origem das espécies se inicia”, conta.
Por outro lado, mirando na conservação da espécie nasceu o projeto de extensão co-coordenado por Thamara intitulado "Além da Universidade: divulgação científica, ciência cidadã e educação ambiental em prol da conservação dos Tuco-tucos" do Projeto Tuco-tuco (UFRGS). O grupo à frente da iniciativa defende a convivência com os tuco-tucos e que seja desmistificada a ideia de que sejam pragas, que trazem algum tipo de perigo ou que transmitam alguma doença, especialmente porque, até o momento, não foi detectada nenhuma zoonose nos animais.
Para Thamara, a “popularização da ciência é uma prática fundamental na conservação da biodiversidade, uma vez que permite a aproximação da sociedade com esses animais, muitas vezes desconhecidos por ela”. Essa é a principal proposta do projeto: permitir que os cidadãos participem ativamente do processo de construção do conhecimento. “A expectativa é tornar a sociedade consciente sobre a existência e importância dos tuco-tucos, principalmente em ambientes antropizados, engajando os cidadãos na divulgação tornando-os multiplicadores desse conhecimento”, completa a pesquisadora.
Para conhecer o projeto, seus materiais e acompanhar a divulgação basta acessar o endereço eletrônico www.linktr.ee/projetotucotucoufrgs.
Ficha cadastral da pesquisadora:
Nome completo: Thamara Santos de Almeida
Titulação: Mestra em Biologia Animal pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Títulos dos projetos:
Hybridization between subterranean tuco-tucos (Rodentia, Ctenomyidae) with contrasting phylogenetic positions;
Evolution in action: soil hardness influences morphology in a subterranean rodent (Rodentia: Ctenomyidae).
Instagram: @thamaraalmeida.bio
Link do Lattes: http://lattes.cnpq.br/5725787903593613
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